As tradições gaúchas cultivadas pelo leiloeiro Fábio Crespo
Por Paula Sant’Ana | Canal Rural 
As tradições gaúchas cultivadas pelo leiloeiro Fábio Crespo

Com mais de 30 anos de carreira, Fábio Crespo relembra as raízes rurais e se orgulha das sementes plantadas e colhidas pela família

“Campeiro é meu coração. No campo ele encontra vida. E se encontra na tradição. Que é paixão sem medida”. Um verso que traduz a alma gaúcha de um leiloeiro que cultiva, há 56 anos, o amor à terra, ao cavalo crioulo e tudo que está relacionado ao campo. Natural de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, Fábio Crespo é um dos seis filhos de Dona Leda e Seu Fausto Crespo. Nasceu no dia 27 de agosto de 1961 e é um típico virginiano: perfeccionista, crítico e trabalhador. Daqueles que nunca ficam “em cima do muro”. É pé no chão. É gremista. É apaixonado pelo trabalho e, principalmente, pelas suas três filhas (Lívia, Manuela e Ana).

 

Uma família grande em quantidade e qualidades

Eliana, Ricardo, Mauro, Fábio, Roberto e Alexandre. Os seis filhos do casal Leda e Fausto Crespo tiveram uma infância memorável. Uma educação pautada em princípios e marcada pela união familiar. Estudaram num tradicional Colégio de Porto Alegre (Anchieta). Mas os momentos mais divertidos e prazerosos foram vividos na Fazenda Figueirinha, localizada na “Pacheca”, distrito considerado o mais importante de Camaquã em termos de vestígios históricos. O nome da propriedade é uma homenagem à arvore denominada Figueira, que é bem comum na região.

“As nossas raízes rurais são muito fortes. Valorizamos sempre de onde viemos, quem nos criou, a cidade onde moramos… Aquela coisa bem gaúcha mesmo. Temos orgulho da nossa história e mesmo passando muito tempo fora da nossa base, como é gratificante falar da “Pacheca”. Fomos, somos e sempre seremos da Pacheca. Foi nesse distrito, situado há cerca de 40 quilômetros da cidade de Camaquã, que meu avô Pedro Nolasco Crespo, construiu a Fazenda Figueirinha. Bem perto da Lagoa dos Patos, maior lagoa da América do Sul, com quase 300 quilômetros de comprimento. Foi lá que eu aprendi a gostar do campo, de cavalo…. Meu pai plantava nessa propriedade arroz e soja, além de se dedicar à pecuária. Apesar de estudarmos em Porto Alegre, sempre íamos para a estância nas férias, fins de semana e feriados. Eu e meus irmãos não tínhamos vontade de ir para outro lugar. Lá era onde nos sentíamos felizes. Tanto que só fui conhecer o mar na adolescência”, recorda Fábio Crespo.

“Meu pai foi um exemplo como pessoa e profissional. Tudo nele era admirável: a retidão, o caráter, o jeito dele se vestir, de se portar, de respeitar o próximo… São tantas qualidades. Ele foi meu grande mestre, meu melhor amigo. Era um cara obstinado, duro, de posição. Nunca ficou em cima do muro e isso talvez seja a minha maior virtude ou o meu maior defeito. Rsrs. Eu sempre tomo partido, me posiciono e, consequentemente, arrumo amigos e inimigos. Mas melhor ter os dois do que não ter nem um e nem outro. Minha mãe também foi uma mulher maravilhosa. Com 20 e poucos anos se apaixonou, casou com o meu pai e construiu essa família que eu tenho tanto orgulho de pertencer. A principal herança que eles deixaram pra mim e meus irmãos foi a educação ”, conta Fábio Crespo.

Carreira de leiloeiro inspirada no pai

Fausto Crespo foi político no município de Camaquã, mas encontrou sua vocação profissional quando começou a leiloar. Foi um dos profissionais pioneiros no ramo de leilões no Rio Grande do Sul. Fundador da Fausto Crespo Remates, ele fez questão de trazer todos os filhos para trabalharem juntos na empresa.

Naturalmente, o mundo dos leilões começou a fazer parte da vida de Fábio Crespo, que além de leiloar leva a cultura gaúcha para os todos os lugares por onde passa.
Em 1982, ele comandou o primeiro remate. Em 1986, adquiriu o diploma de leiloeiro rural. A primeira experiência ele recorda bem, só não consegue visualizá-la completamente. “A primeira vez que eu subi num púlpito foi para vender um lote grande de touros. Meu pai encaminhou o lote para mim. Eu comecei a falar, falar, falar… Ouvia os gritos dos pisteiros, mas não enxergava absolutamente nada e nem ninguém. E foi com esse apagão que eu iniciei a minha carreira que hoje contabiliza mais de três décadas. É uma profissão que me realiza. Intermediar quem quer vender e quem está disposto à comprar é fascinante. Deixar os dois lados felizes é a nossa missão. E se manter na ativa por tanto tempo é a melhor recompensa. ”, declara Fábio Crespo.

Fábio Crespo “no ar” e “fora do ar”

Desde a primeira experiência até os dias atuais, Fábio Crespo já comandou mais de 5 mil leilões. Teve épocas em que ele e o saudoso Alexandre Crespo fizeram mais de 20 leilões por mês. Exigente, rígido e crítico quando está trabalhando, Fábio Crespo se transforma numa outra pessoa quando está fora do ar. E por incrível que pareça, uma de suas características é a timidez! “Tenho fama de ser uma pessoa rígida. Virginiano, sabe como é, complicado viu?! Sou muito perfeccionista. Não gosto de me ver leiloando e nem dando entrevistas, pois sempre encontro alguma coisa que não gostei e me penalizo demais. Por isso, evito olhar as minhas gravações. Quem trabalha comigo sabe que sou totalmente focado e exigente. Temos que oferecer o melhor aos clientes. Por outro lado, quando termina o leilão sou o primeiro a sentar para conversar, tomar uma cerveja… Mas admito que no decorrer do leilão sou um pouquinho difícil. Outra coisa é que muita gente que me vê atuando nos remates pensa que sou uma pessoa extrovertida, só que na verdade sou um cara tímido e sempre tive vergonha de falar em público”, confessa Fábio Crespo.

O comprometimento com a profissão e com os clientes é um dos pontos fortes do leiloeiro Fábio Crespo. Não é qualquer profissional que no dia do falecimento de seus pais tem condições psicológicas para trabalhar. “Tanto no dia que meu pai faleceu, como no dia que minha mãe morreu, eu leiloei. Foram os dois remates mais difícieis da minha carreira”, lembra Fábio Crespo.

Cavalo crioulo rompendo fronteiras com a ajuda do Canal Rural

O cavalo símbolo do Rio Grande Sul, desde a infância faz parte da vida do leiloeiro Fábio Crespo, que presenciou a expansão da raça Brasil afora e a contribuição do Canal Rural para esse progresso. “Minha família sempre criou cavalo crioulo: meu avô, meu pai, tios, primos… Eu criei, corri provas, atuei no manejo da raça no início da carreira e em todas as fases da minha vida o crioulo esteve presente. Fico feliz pela evolução da raça nos últimos anos, principalmente após a parceria com o Canal Rural, iniciada em 1996. Através da emissora, o nosso cavalo chegou à todos os cantos do País. Seja através dos leilões, das provas, do Freio de Ouro e de programas dedicados exclusivamente à raça. Mais de 80% do meu relacionamento pessoal vem do cavalo crioulo”, afirma Fábio Crespo.

Parceria Leilões

Em 2015, a história se repete. Assim como o pai, Fábio Crespo abriu uma leiloeira rural, em Porto Alegre. A Parceria Leilões nasceu da necessidade de ter uma estrutura própria para atender os clientes. 312 leilões já foram realizados pela empresa.

As meninas do coração de Fábio Crespo

Ao lado da esposa Fabiana Fagundes, filha de José Antônio Marques Fagundes, ex-presidente da ABCCC (Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Crioulos), entre 1991 e 1993, e das três filhas:  Lívia (34 anos), Manuela (13 anos) e Ana (5 anos). “Minhas meninas são meu motivo de viver, de sorrir, de trabalhar, de tudo! As três têm o mesmo pai, mas não a mesma mãe. É emocionante saber que além de serem minhas amadas, elas se amam muito também. A Lívia, a mais velha, trabalha comigo na Parceria Leilões. A Manu e a Ana ainda são novas, mas me acompanham em alguns remates. Sem elas na minha vida, poderia ter todo o sucesso profissional do mundo, mas jamais me sentiria uma pessoa realizada”, diz Fábio Crespo.

Bah! Com tantas bênçãos recebidas, o que esperar para o futuro, Fábio Crespo? “Eu tenho mais motivos para agradecer do que para ficar planejando o futuro. Trabalho com o que eu gosto. Tenho uma família linda. Vivo e convivo num meio que me encanta. Amo tudo que conquistei e realizei na minha vida”, conclui Fábio Crespo.

Por Paula Sant’Ana | Canal Rural