Conheça o que é necessário para exportar gado vivo
Por Bárbara Siviero | Canal Rural
Conheça o que é necessário para exportar gado vivo

Exames sanitários, GTA, limpeza e comodidade estão entre as exigências do MAPA

O rebanho brasileiro cresce tanto que já é maior do que a população que temos no país. De acordo com os dados do último Censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto o número de habitantes é de 207 milhões, o de gado ultrapassa as 215 milhões de cabeças. A exportação também é a maior do mundo, sendo um dos mercados mais procurados, principalmente pelos países árabes. A Turquia é uma grande compradora e na semana passada foi envolvida em uma polêmica no Brasil, quando uma liminar judicial quase impossibilitou a exportação de animais com saída pelo Porto de Santos, alegando maus tratos. O impedimento às exportações não durou muito tempo e a venda para o mercado internacional foi autorizada.

O assunto rendeu opiniões divergentes e a reportagem do Canal Rural foi conhecer de perto como são os procedimentos realizados para o embarque do gado. O porto escolhido foi o de São Sebastião. Localizado no litoral Norte de São Paulo, uma região que abrange importantes polos industriais do Sudeste, ele é considerado referência (no total das cargas exportadas, incluindo todo tipo de materiais, como barrilha, sulfato de sódio, malte, cevada, veículos, entre outros, de 2011 a 2015, o Porto de São Sebastião movimentou R$ 3,6 milhões de cargas), além de ser um dos mais utilizados para a saída de carga viva no estado. De 2016 a 2017, mais de 50 mil cabeças de gado foram exportadas por lá e esse número deve aumentar em 2018. De acordo com o diretor de gestão portuária do Porto de São Sebastião, Mateus Damazio, até o final deste ano 70 mil animais devem deixar o país pelo local. “Nos últimos dois anos, o maior volume de exportação tem envolvido diferentes raças e tipos de gado, incluindo os de produção”, afirmou Mateus.

Para que o gado chegue ao porto o trajeto é longo, mas não apenas por conta da estrada, e sim por causa das diversas fases e burocracias. As regras começam logo na sequência da compra dos animais, que precisam estar com a Guia de Trânsito Animal (GTA) em dia para transitar pelas rodovias do país. “Normalmente [o gado] é trazido do Brasil todo, abrangendo os estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, entre outros”, informou o exportador Rafael Xavier, que estava exportando carga viva para a Turquia pela segunda vez na última sexta-feira (12).

Assim que chegam nas chamadas EPEs (Estabelecimento de Pré-Embarque), os animais precisam passar por uma quarentena no local. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é o responsável pela vistoria documental e pela emissão do termo de abertura da quarentena, que deve ser lavrado através da supervisão de um médico veterinário. A quarentena do gado dura, por lei, 21 dias.

Também nas EPEs, o gado é submetido a exames de acordo com as exigências do país comprador, “cada um seguindo seu protocolo sanitário, como é o caso das vacinas, por exemplo”, informou o vice-presidente da Associação Brasileira de Exportadores da Animais Vivos (Abreav), Valdner Bertotti. Especificamente nesta embarcação para a Turquia são exigidos os seguintes exames:  IBR/IPV (evita doenças responsáveis por abortos, entre outras enfermidades), BVDV (diarréia viral bovina), tuberculose e leucose (doença infecto-contagiosa fatal). Em cada operação, são gastos nos exames sanitários uma média de R$ 250 mil.

A EPE deve ficar próxima ao porto escolhido para a embarcação. No estado de São Paulo existem em média 10 unidades. “Quando os animais chegam, eles tomam água, banho, posteriormente são pesados e vão para uma área de descanso, e, dependendo da distância, recebem um soro”, informou o proprietário da EPE 006, Diogo Castilho. Novo no mercado, a primeira exportação de gado vivo que ele participou foi no dia 05 de fevereiro deste ano.

Para encerrar a quarentena o MAPA faz uma nova vistoria, passando a verificar as condições para o próximo embarque, que seria o transporte rodoviário. “Caso exista qualquer desvio, como, por exemplo, o caminhão não ter sido bem lavado, o ministério vai rejeitar e terá que ser lavado novamente”, informou Diogo. O material utilizado na limpeza, inclusive o desinfetante, deve ser aprovado pelo próprio ministério.

O trajeto em direção ao porto também deve ser informado e seguido pelo motorista responsável pelo trânsito dos animais, já que é monitorado pelo sistema de Gestão de Defesa Animal e Vegetal (GEDAVE), também do MAPA. Em média, cada caminhão tem a capacidade de transportar de 50 a 80 animais e a operação tem um custo aproximado de R$ 400 mil.

Chegando ao porto, os caminhões são pesados e vistoriados pela guarda portuária, seguindo ordem da Receita Federal e da Polícia Federal do Brasil, e é emitida uma autorização prévia para a entrada deles. De acordo com  Valdner Bertotti, neste momento, “eles passam mais uma vez pela fiscalização do MAPA, onde olham novamente a GTA”. É verificado ainda o termo de lacração, que é a informação que vai fixada no veículo, informando quantos animais estão sendo transportados. Quando autorizado a entrar no porto, o caminhão passa novamente por uma vistoria, “o ministério avalia visualmente a condição dos animais, e eles são embarcados no navio”, afirmou ele. Nestes serviços são gastos mais de R$ 300 mil.

Os animais não desembarcam no porto, eles são direcionados direto para dentro do navio. A passagem é feita por meio de uma passarela que tem, em média, 12 metros de comprimento, na qual os animais entram andando, um a um, até que todo caminhão seja esvaziado.

Na operação acompanhada pelo Canal Rural, foram embarcados 4 mil animais e 67 caminhões ficaram responsáveis pelo trajeto. De acordo com Valdner, o navio tem capacidade para acomodar 4,8 mil animais.     

Dentro do Navio

O navio que transporta os animais para outros países não é brasileiro. Segundo o vice-presidente da Abreav, Valdner Bertotti, o país não possui tal estrutura, que teria custo superior a R$ 2 milhões.

Antes de ser ancorada, a embarcação passa pela inspeção da capitania dos portos, onde são avaliadas as condições documental e estrutural do navio. E como acontece em todas as fases, nesta etapa a fiscalização também é realizada pelo  MAPA. “O ministério vai avaliar a comida, qualidade da água, a qualidade das instalações e a maravalha ou serragem que será utilizada na cama do gado para que ele se sinta mais confortável”, completou Valdner.  

No interior do navio, os animais são confinados seguindo os moldes regulamentados por lei, cada curral mede, em média, 3,30 metros quadrados. Vão à bordo dois médicos veterinários, um vaqueiro e o restante da tripulação.

A alimentação é uma das principais preocupações, principalmente com relação às exportações para a Turquia, já que o gado deve chegar vivo e saudável. “Esses animais entram em uma linha de continuidade e normalmente ganham peso a bordo do navio, o que agrega valor à carga nacional”, ressaltou Bertotti.

Na operação acompanhada pela reportagem, foram embarcados 547 toneladas de alimento próprio para o gado, incluindo ração e concentrado; 800 toneladas de água, mais uma máquina dessalinizadora, com capacidade para produzir 180 toneladas por dia. O estoque de alimentos é monitorado, mas, se houver necessidade por excesso de consumo, já estão planejados, antes da partida, paradas em entrepostos para reabastecimento, normalmente situados na Espanha. De acordo com as regras exigidas pelos turcos, o animal deve chegar ao destino final pesando até 300 quilos e seu destino é a criação de cria, recria e engorda.  

Exportação

No Brasil, a exportação de bovinos é regulamentada por uma série de atos normativos, que abordam os procedimentos básicos para a preparação de animais vivos para o procedimento, que inclui a seleção nos estabelecimentos de origem,a aprovação no pré-embarque e o manejo nas instalações, no embarque e durante todo o trajeto por via marítima, terrestre e aérea.

 

Por Bárbara Siviero | Canal Rural